Palácio do Sobralinho
Erguido timidamente no final do Século XVII, ampliado e renovado no século XVIII, o Paço do Sobralinho teve diversos proprietários, entre os quais os Manuéis, Condes de Vila Flor desde 1661, D. Sancho Manuel, D. Crestóvão, D. Martim, D. Luiz, D. Joaquim, D. António, até ao 7º e último conde, 1º marquês de Vila Flôr e 1º Duque da Terceira, D. António José de sousa Manuel e Mendes Severim de Noronha, o marechal e estadista da causa liberal, que recebeu 100 contos de reis de D. Pedro IV para a sua reconstrução.
Durante as caçadas à Lezíria, D. Pedro V e sua esposa D. Estefânia pernoitavam no Paço.
Depois do Conde de Sagres ter habitado o Palácio, o novo proprietário Dr. Armindo Monteiro, durante a II Guerra Mundial trouxe de lá peças de arte importantíssimas, adquiridas especialmente em leilões. Seguiram-se os donos Camilo Infante de La Cerda, a família do Dr. Ricardo Espírito Santo, D. Rita Espírito Santo, em 1989, uma firma com sede em Hong Kong, antepenúltimo proprietário do Paço, que devido à Guerra do Golfo, deixou de cumprir as sua obrigações com o BPA. Através da Compave, Sociedade Imobiliária do Grupo do Banco Português do Atlântico, e em hasta pública, foi adquirido pela Câmara Municipal de Vila franca de Xira, em outubro de 1993, por 350 mil contos.
Palco de reuniões e visitas da nobreza (D. Pedro V, D. Maria II e seu marido D. Fernando, Marquesa de Rio Maior, Duque de Palmela, Marquês de Fronteira e de Alorna) e de chefes de governo posteriores à Monarquia e ao "28 de Maio". Dr. António de Oliveira Salazar, sempre que havia crises, ali se refugiava.
Na noite de 9 de fevereiro de 1944, o Palácio e as suas preciosidades (arte e livraria), transformaram-se num monte de ruínas. Habitantes vivos, lembram-se dos tempos em que D. Laura Cancela de Abreu ia à missa na Capela do Paço, assim como da sua filha herdeira D. Lúcia Cancela de Abreu, casada com o Dr. Armindo Monteiro que foi Ministro das Colónias e depois Embaixador em Londres. É neste período que começa a desgraça do Palácio. Salazar toma conhecimento de que a Embaixada Portuguesa era frequentada pelos embaixadores russos. Para acabar com tal amizade, o Chefe do Governo, avisa o Dr. Armindo Monteiro para pôr termo às visitas. Como este e a esposa continuaram a fazer "orelhas surdas", Salazar irritou-se e nunca mais voltou (antes e depois do incêndio) ao Palácio do Sobralinho.
Antiga Igreja do Mártir de S. Sebastião
Os quarentões, bem se lembram das ruínas daquela que foi uma das mais belas igrejas edificadas no século XVIII.
Na época do Duque de Terceira, um dos proprietários do Paço, realizavam-se na Igreja do Martir S. Sebastião, festas religiosas, acompanhadas de música sacra. As procissões iam da Igreja do palácio, repletas de povo e nobreza. Das varandas caiam colgaduras riquíssimas e todas as janelas se embelezavam de colchas, umas da índia, outras do Ribatejo. Os marqueses de Sagres e de Sergio de Sousa, eram personalidades assíduas às festas religiosas. Estes nobres, assim como os marqueses de Louriçal que tinham laços familiares com os de Terceira e os de Loulé, misturavam-se de dia com os plebeus e, à noite no Paço, divertiam-se com as festas da época, onde não faltava o bobo João Tolo.
Como se não bastasse o incêndio e o vandalismo que danificou a Igreja, em 27 de janeiro de 1951, quando da inauguração da luz elétrica no Sobralinho, pelo presidente da Câmara José de Sousa Nazaré, o Jornal "Vida Ribatejana", de 3 de fevereiro de 1951, relatava o seguinte:
"Falou, depois, a menina Maria César Rodrigues, principiando por apresentar os seus cumprimentos a S. Exa. e a toda a sua comitiva. Lastimou o facto da Igreja do Sobralinho se encontrar em vergonhoso estado de ruína, lembrando que a mesma deve ser demolida para evitar aquela permanente vergonha, e que fosse poupada a torre que, restaurada, poderia servir para nela ser colocado um sino para casos de alarme e um relógio para orientação do povo, o que, ao mesmo tempo, embelezaria o lugar. Pediu, também, caso fosse possível, a construção duma pequena ermida e, em volta dela, um pequeno parque, para sanear os ares da povoação. Pediu também ao povo para que trate com carinho o Cruzeiro, porque ele é um padrão evocativo da glória de um dos filhos do Sobralinho, um bravo defensor da nossa Pátria - Jacques de Magalhães."
Em resposta: "O Sr. Ernesto dos Reis ventilou o caso das ruínas da igreja, reconhecendo com mágoa, que é impraticável a sua reconstrução pelos capitais que absorveria. Mas - declarou - advoga que, com boa vontade das instâncias oficiais e com a ajuda do povo, se levante daquelas ruínas uma capela pequenina onde os devotos possam praticar a sua religião, há tantos anos privados dela."
Homens e mulheres ainda vivos, retêm na memória, cenas de destruição e roubo que lhes custam acreditar como foi possível tanto vandalismo feito àquela igreja. Em 1939 o sino foi levado em cima dum burro. Possivelmente para ser fundido e transformado em "tostôes", pois a fome era tanta que qualquer bocado de ferro se transformava em pão!... Vivia-se em plena II Guerra Mundial. Tudo valia e ninguém se opunha: As telhas, cantarias, esticadores e até os lindos azulejos azuis, desapareceram como uma maldição se tratasse. algumas imagens de santos foram parar à antiga freguesia do Sobralinho ou seja Alverca do Ribatejo.
No local da antiga igreja do Mártir S. Sebastião e do cemitério, foi feito em 1944, o marco da água canalizada. Posteriormente, após a "limpeza" das ruínas da Igreja e do cemitério, edificou-se a "Torre do Relógio" e o Jardim.
Encostadas ao muro do Jardim, ainda estão umas pedras das ruínas da igreja. Como quem diz: Aqui jazem os restos mortais da Igreja do Mártir S. Sebastião
Linha de Torres Vedras
Quando se deu a 3ª Invasão Francesa, Lord Wellington, organizou em 1810, a famosa Linha de Torres, esperando pelos 60000 soldados de Massena. Velhos, mulheres e crianças, refugiaram-se no Convento da Nossa Senhora dos Anjos, situado nos terrenos da antiga Quinta da Capacharica.
Convento dos Franciscanos Mendicantes, sob a invocação de Nossa Senhora dos Anjos da reforma de Santo Agostinho. Monumento do Século XVI, encontra-se em estado avançado de degradação, restando apenas as antigas estruturas e uns troços da calçada. Perto do Solar do Paço, existia um fortim com peças de artilharia onde os portugueses fizeram frente aos poderosos exércitos franceses. Ainda hoje são visíveis muros e pedras soltas que marcam as feridas dos Sobralinhenses. Ali mesmo ao lado da vizinha Alhandra, está erigida desde 1883, a estátua (Hércules) da primeira linha de Torres Vedras, a lembrar a população de agora, que os nossos avós também lutaram e morreram por Portugal.
Cruzeiro
No Largo da Cruz, existe um cruzeiro que evoca a glória e bravura do Sobralinhense Pedro Jaques de Magalhães, que tomou o Recife (Brasil) aos Holandeses e voltando a Portugal destroçou o duque de Ossuna na Batalha de Castelo Rodrigo, tendo sido agraciado por D. Pedro II com o título de Visconde de Fonte de Arcada.
O Cruzeiro, em pedra, por onde passavam as procissões, pertencia à antiga igreja do Mártir S. Sebastião. É o centro de convívio da população. Ali, nos degraus de pedra, dialoga-se de tudo um pouco.